PEDRO VALDO E A ORIGEM DO MOVIMENTO VALDENSE

PEDRO VALDO E A ORIGEM DO MOVIMENTO VALDENSE

Caro leitor, o texto foi adaptado a partir das seguintes obras:

  • NICHOLS, Robert Hastings. História da igreja cristã. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2000.
  • OLSON, Roger E. História da teologia cristã. São Paulo: Editora Vida, 2001.

Vamos a leitura 📖 e bons estudos 📚✨

Certo dia, Valdo ouviu um trovador itinerante cantar sobre as virtudes da vida monástica.
A canção narrava a história do jovem Alexis, pressionado pelos pais patrícios a se casar, mas que, relutante, dedicava-se ao ideal de castidade. Assim, na noite de núpcias, ele fez um pacto de pureza com sua esposa e, imediatamente, partiu para a Terra Santa.

Seus pais buscaram-no em vão. Anos mais tarde, Alexis retornou para casa como um mendigo, mas a vida de abnegação o deixara tão macilento (magro) que ninguém o reconheceu. Ele viveu no quintal da casa, sobrevivendo das migalhas que caíam da mesa da família.

Apenas quando estava prestes a morrer revelou sua verdadeira identidade — tarde demais para que a família enlutada o recebesse de volta. A moral da história foi então revelada: o verdadeiro cristão deve estar disposto a sacrificar tudo nesta vida pelo bem do próximo.

Profundamente comovido, Valdo procurou um sacerdote para saber como poderia viver de modo semelhante a Cristo. A resposta foi a mesma que Jesus deu ao jovem rico: “Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois, venha e siga-me” (Mateus 19:21).

Nove séculos antes, o mesmo texto (Mateus 19:21) havia inspirado o movimento monástico com Antão, no Egito.

Vamos lá!

Antão foi um eremita do deserto, e por muitos foi tratado como Santo Antão do Deserto, isto é, um dos fundadores do monasticismo cristão. Sua vida foi registrada por Atanásio de Alexandria na obra A Vida de Antão, um texto fundamental para a disseminação do ideal monástico.

Atanásio, um dos mais influentes bispos do século IV, tinha Antão como um de seus heróis pessoais e destacou seus feitos como asceta do deserto e operador de milagres. Durante seus exílios no Ocidente, Atanásio levou consigo essa obra, que rapidamente se espalhou pela Europa.

O livro desempenhou um papel crucial na aceitação do monasticismo entre cristãos de diversas regiões do Império, tornando-se a base para a ascensão dos mosteiros e para a profunda influência do monasticismo no cristianismo ocidental por muitos séculos. Esse estilo de vida ascético e sem riqueza influenciou diversas ordens monásticas, como os beneditinos e os franciscanos, que seguiram o mesmo princípio de desapego material e dedicação à fé.

Voltando a Pedro Valdo: 

Profundamente comovido com a história do jovem Alexis, Valdo procurou um sacerdote para saber como poderia viver de modo semelhante a Cristo. A resposta foi a mesma que Jesus deu ao jovem rico:

“Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois, venha e siga-me” (Mateus 19:21).

Voltando a Valdo, ele decidiu seguir esse conselho. Assegurou uma renda adequada à esposa, colocou as duas filhas em um convento e doou o restante de suas propriedades aos pobres.

No início de sua missão, recrutou dois sacerdotes para traduzir partes da Bíblia para o francês. Depois de memorizar longas passagens, começou a ensinar pessoas comuns a imitar Cristo por meio da prática da pobreza voluntária.

Sua inovação consistia em aplicar a vida de pobreza, discipulado e pregação a todos os cristãos verdadeiros, e não apenas aos monges. Ao ganhar seguidores, Valdo enviou-os de dois em dois, seguindo o padrão apostólico, para pregar nos povoados e mercados, ensinando e explicando as Escrituras. Eles se autodenominavam Pobres de Espírito, mas ficaram conhecidos como valdenses.

A pregação não autorizada de Valdo logo enfrentou forte oposição do arcebispo de Lyon, que ordenou que ele parasse. No entanto, Valdo recusou-se, citando São Pedro:

“É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens!” (Atos 5:29).

Como resposta, o arcebispo excomungou-o.

A Conflituosa Relação com Roma

Valdo e seus seguidores decidiram recorrer ao papa. Ao chegarem a Roma, encontraram a cidade repleta de clérigos participantes do Terceiro Concílio de Latrão (1179). Ainda assim, conseguiram uma audiência antes do Concílio, mas tiveram a infelicidade de ser ridicularizados por um inglês astuto chamado Walter Map.

O papa Alexandre III, por sua vez, não encontrou evidências de heresia neles e impressionou-se com sua pobreza. No entanto, por serem leigos, determinou que só poderiam pregar mediante convite dos bispos — uma possibilidade bastante improvável.

Convencido de que as Escrituras o mandavam pregar aos pobres, com ou sem a aprovação dos bispos, Valdo continuou sua missão ao lado de um número crescente de seguidores. O movimento expandiu-se pelo sul da França e pelos Alpes até a Itália.

Em 1184, a contínua desobediência levou o papa Lúcio III a excomungar os valdenses da Igreja Católica.

O Legado Valdense e a Reforma Protestante

Os valdenses queriam purificar a Igreja com um retorno à vida simples dos apóstolos, o que significava renunciar aos poderes mundanos. Tinham o mesmo objetivo da Igreja Romana — a salvação —, mas seus meios eram radicalmente diferentes.

O papado não podia abrir mão de seus sacramentos ou do sacerdócio, nem admitir que a fé em Deus pudesse existir independentemente das ordens de Roma. Já os valdenses sentiam cada vez mais que nenhum ensinamento, exceto o de Cristo, era obrigatório — ou seja, as Escrituras deveriam prevalecer.

Contudo, como poderiam manter o movimento se todos vivessem em pobreza apostólica? Aos poucos, passaram a aceitar, assim como os primeiros mosteiros, dois níveis de comprometimento cristão. Os Pobres de Espírito — o núcleo do movimento — estavam vinculados por votos especiais e cultuavam juntos em simplicidade. Já o círculo de amigos permanecia na Igreja Católica, mas fornecia apoio e novos recrutas.

A identidade valdense como um movimento de retorno à Bíblia ficou tão evidente que, ao longo dos anos, muitos cristãos evangélicos tentaram apresentá-los como reformadores antes da Reforma.

Comparados à doutrina de autoridade papal da Igreja Romana, os valdenses de fato soam como Lutero ou Calvino. No entanto, seu entendimento de salvação — baseado na vida de pobreza e penitência — carecia da clareza da graça de Deus, que se tornaria um pilar fundamental da Reforma Protestante.

O CETHF abençoa a todos com um tempo de estudos frutífero!🌱

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