Caros estudantes, o texto a seguir é uma mescla de algumas literaturas. Para saber mais, leia as seguintes obras:
NICHOLS, Robert Hastings. História da igreja cristã. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2000; OLSON, Roger E. História da teologia cristã. São Paulo: Editora Vida, 2001; SHELLEY, Bruce L. História do cristianismo: uma obra completa e atual sobre a trajetória da igreja cristã desde as origens até o século XXI. 1º ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2018.
A imagem de capa foi gerada por inteligência artificial:
Figura 1 – Execução de Miguel Serveto em Genebra (1553). Fonte: OPENAI (2025).
A Trágica História de Miguel Serveto e a Genebra de Calvino
Em pleno século XVI, a Europa era palco de intensos conflitos teológicos. A Reforma Protestante abria caminhos para novas interpretações da fé cristã, mas também reacendia antigos medos e resistências herdados da Idade Média. Um desses medos era a heresia — considerada, então, um crime passível de morte por praticamente todos, católicos e protestantes.
Foi nesse contexto que, em 1553, um episódio marcante tingiu de controvérsias a biografia de João Calvino: a execução de Miguel Serveto. Serveto, um médico espanhol brilhante, mas também impetuoso e provocador, havia sido condenado pela Igreja Católica por negar a doutrina da Trindade. Fugindo da Inquisição, escolheu um destino arriscado: Genebra, justamente a cidade sob influência de Calvino — aquele que já havia o proibido de entrar ali.
Na época, a autoridade de Calvino estava sendo desafiada por diversas facções internas da cidade. Serveto chegou em um momento delicado, ainda assim ousou ir ao templo ouvir Calvino pregar. Isso foi visto como uma afronta direta. Acusado de heresia, foi preso. Calvino, embora preferisse uma execução menos cruel — por decapitação —, não se opôs ao julgamento e condenação. As autoridades da cidade, no entanto, decidiram pela fogueira.
Assim, Serveto foi queimado vivo em Genebra, e a sombra dessa decisão acompanhou Calvino até depois de sua morte. Ganhou o rótulo de “o homem que queimou Serveto”, mesmo sendo apenas um entre vários juízes e mesmo desejando um desfecho mais misericordioso.
Esse episódio reflete os limites do pensamento reformado ainda preso a estruturas medievais. Calvino sonhava com uma “cidade piedosa”, uma espécie de república teocrática em que as Escrituras fossem a base da legislação civil e eclesiástica. Mas seu projeto encontrou resistência. A vida em Genebra tornou-se austera: delinquentes eram punidos, bêbados barulhentos expulsos, e críticas abertas ao reformador podiam levar ao exílio.
A história de Serveto, portanto, não pode ser reduzida a uma simples condenação. Ela revela a tensão entre o ideal reformador de Calvino e a realidade dura de uma época que ainda não havia aprendido a conviver com a divergência religiosa.